16 de mar. de 2008

Células-tronco - o que falta é informação!



E aí? Você é a favor ou contra as pesquisas com células-tronco embrionárias? Pesquisa realizada recentemente, me parece que no Rio de Janeiro ou São Paulo, não me lembro agora, o que não diminui a importância nem a credibilidade dos dados, constatou que 85% dos entrevistados eram a favor das pesquisas com células-tronco embrionárias. No entanto, o que mais me surpreende é que, desses mesmos entrevistados, 80% não sabiam o que eram células-tronco! Mas e aí? Como você pode se posicionar sobre um assunto que desconhece?


Em um debate muito esclarecedor que participei neste sábado (15/03/2008), na Paróquia São Vicente de Paulo, em Taguatinga Sul, pude ter uma percepção muito maior acerca desse tema tão polêmico. Estavam presentes como debatedores e, sob a mediação do pároco, Padre Katê, o Doutor em Filosofia e Teologia, Dr. Ernandes Reis, o Pastor César, da Assembléia de Deus da QSF, também em Taguatinga Sul, o médico pediatra, Dr. Wilson Marra, o Secretário de Ciência e Tecnologia do DF, Izalci Lucas e o ex-Procurador-Geral da República, Claudio Fonteles, autor de ação de inconstitucionalidade, ainda a ser totalmente julgada no Supremo Tribunal Federal (STF), ao projeto de Lei da Biosegurança, no qual foi incluído um artigo que trata do uso de células-tronco embrionárias em pesquisas científicas. Pois bem, vamos aos fatos.


Inicialmente, com a bela explicação do Dr. Marras, confirmei que células-tronco são células capazes de se transformarem em qualquer outro tipo de célula. Com isso, seria possível regenerar tecidos humanos destruídos por uma doença degenerativa, por exemplo. Teoricamente, qualquer uma de nossas células é capaz de se transformar em outra. Nas células embrionárias, no entanto, isso se torna de certa forma mais perceptível. A partir do momento em que o espermatozóide fecunda o óvulo, este zigoto começa a se subdividir. Essa única célula, em condições normais, irá se transformar num ser humano com 216 células diferentes!


Há, antes de mais nada, uma grande discussão de onde começa a vida. Vou tentar explicar onde a vida começa falando de onde ela termina: na morte. Para a medicina, a partir do momento em que o cérebro perde a capacidade de transmitir impulsos elétricos, pode-se atestar a morte de uma pessoa. É o que chamamos de morte cerebral, fato que permite à família doar os órgãos dessa pessoa. Pois bem galera, é com esse mesmo argumento que os cientistas se baseiam para definir onde começa a vida, lá na outra ponta do fio. É assim: ora, se a vida termina quando os impulsos elétricos cessam, então a vida começa quando do início desses sinais elétricos, quando da formação do sistema nervoso central! Isso ocorre lá pelo 14º dia da gestação.


Percebi aí que, para a ciência, aquele embriãozinho que papai e mamãe fizeram com tanto amor, não é nada além de uma “coisa” até o 13º dia! Daí eu me pergunto: será mesmo? Será que realmente antes disso não há vida? Será que então eu posso usar essa célula, que não vai se tornar um ser humano, para salvar uma vida? Ou será que não é bem assim?


Com a empolgadíssima explicação de Claudio Fonteles, pude constatar fatos interessantes e importantes. No momento em que o espermatozóide fecunda o óvulo, este zigoto começa a se subdividir e a seguir em direção ao útero. Não é a mãe que subdivide essa célula. Não é a mãe que a leva até o útero. Não é a mãe que a faz se desenvolver. Ela apenas cria, é verdade, o ambiente adequado para esse desenvolvimento, mas, não sei se percebem, já no zigoto, começa a multiplicação das células e o deslocamento no ventre materno. Porque então não seria correto afirmar que a vida começa no momento da fecundação? Afinal, mesmo sendo um zigoto, ele já tem vontade própria!


Mas o principal motivo de eu ser contra as pesquisas com células-tronco embrionárias – é isso mesmo, sou contra – é que existem outras possibilidades de se conseguirem resultados muito mais eficazes e sem precisar destruir uma vida para tentar salvar outra. E a mídia não deixa isso claro para a gente. Simplesmente botam pessoas doentes ou com deficiência, dando depoimentos emocionados de como as pesquisas poderiam melhorar suas vidas. Dessa forma, os meios de comunicação atuam fazendo uma lavagem cerebral em nós para que sejamos a favor das pesquisas. Eu mesmo tenho familiares doentes que poderiam, teoricamente, ter uma vida melhor com a ajuda das células-tronco. Porém, se existem outras formas de se realizar essas pesquisas, porque eu seria a favor da destruição de embriões, da destruição da vida? A mídia só não nos esclarece como deveria, porque, infelizmente, por trás disso tudo, existe um jogo muito forte de interesses, principalmente interesses econômicos.


Fonteles citou o fato, que já era do meu conhecimento, de um cientista japonês que abandonou as pesquisas com células-tronco embrionárias após descobrir que é possível obter resultados muito melhores com células da pele! As nossas células da pele são capazes, e com muito mais eficácia, de se transformarem em qualquer outro tipo de célula do nosso corpo. As células da pele são células-tronco! Outro fato citado por Fonteles, que eu também já conhecia – atenção, estou falando aqui de fatos, e não meras suposições – é que, o cordão umbilical, está repleto de células tronco! E adivinha para onde elas vão após o nascimento da criança? Lixo! São descartadas. Fonteles levantou a possibilidade de o governo que, segundo ele, se diz social, criar um banco de coleta e armazenamento desses cordões umbilicais por todo o Brasil, o que não é muito caro, tem dinheiro para isso e daria sim para fazer. Isso é medicina social. Se a pessoa, já bem vivida, tivesse uma doença degenerativa, por exemplo, poderia fazer uso das preciosas células que estariam no seu cordão umbilical preservado e conseguir a cura!


Uma outra sugestão levantada por Fonteles é, porque não poderia se estimular a adoção de embriões congelados? Casais com dificuldades de concepção de uma criança recorrem à fertilização in vitro, o famoso bebê de proveta. Nela, a produção de óvulos é estimulada e, com isso, são colhidos cerca de oito óvulos para ser induzida a fecundação pelo espermatozóide em um recipiente adequado. Depois de fecundados, desses oito, cerca de quatro apenas são aproveitados, o restante permanece congelado, até ser descartado, com a autorização dos pais. Você estaria aí descartando quatro vidas, quatro crianças! A Folha de São Paulo, domingo, 09 de março de 2008, publicou, segundo Fonteles, uma reportagem de uma mulher que havia dado a luz a uma criança, Vinícius – se não me engano é esse o nome – que estava congelado há sete anos! Como Vinícius teve o seu direito constitucional à vida porque teve uma mãe que o adotou ainda congelado, assim poderia se fazer com todos os outros embriões congelados por este país. Estima-se que são cerca de 30.000!


Mas, afinal, o que concluí de tudo isso pessoal? Vamos lá. Já que existem outras formas mais eficazes de se realizarem as pesquisas com células-tronco, porque então destruir a vida, mesmo que ainda na forma embrionária, para isso? Isto, para mim, não tem sentido! O que vejo, é que somos como aqueles 85% que são a favor das pesquisas mas, que destes, 80% sequer sabem o que são células-tronco. Somos levados a formar a opinião que a mídia quer que formemos – e nós, alunos de Comunicação, sabemos muito bem disso. Não temos um amplo debate sobre a questão! As pessoas não conhecem realmente do assunto para se posicionarem. A mídia, e aí entra tanto o jornalismo quanto a publicidade, não nos fornece toda a informação do assunto de que precisamos para, nós mesmos, tirarmos nossa própria conclusão. Cada um deveria formar por si, sua própria opinião, e não deixar que os meios de comunicação a forme para nós. Acredito que somos seres suficientemente inteligentes para isso, o que nos falta é informação!

2 comentários:

Gustavo Alvarenga disse...

Bastante interessante o texto e fico de queixo caído com essas afirmações.
Mas acredito que eles querem fazer um processo evolutivo da ciência.
Primeiro começam pelo mais difícil e depois dizem que descobriram que podem usar outras formas e assim saírem como heróis.
Lembrando que toda essa discussão só gera pauta para a mídia louca por assuntos polêmicos e ainda gera verba para os políticos e ocupa seus preciosos tempos para evitar outros assuntos importantes para o Brasil, como a Reforma Tributária, por exemplo.
Eu também sou contra o uso de embriões.

Cleide Rosa disse...

Agora você conseguiu dar um nó na minha cabeça. Adorei a forma como você esclareceu um tema tão polêmico. Cofesso que antes era a favor das pesquisas, mais agora fiquei na defensiva e vou rever meus conceitos existem alguns detales que antes não levava em conta.