
Segunda-feira, 14 de Julho de 2008
’É hora de fazer parcerias’
Na palestra de abertura do IV Congresso, Kofi Annan afirmou que os desafios e problemas da atualidade são tão complexos que não podem ser resolvidos sem o trabalho conjunto de governos, entidades e setor privado
'Precisamos dar um rosto humano à globalização, para que o maior número possível de pessoas possa desfrutar de seus benefícios', afirmou Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU e Nobel da Paz em 2001, na palestra de abertura do IV Congresso Brasileiro de Publicidade. Para um público de quase 1.500 pessoas, Annan deu ênfase à necessidade de justiça social, aos riscos do aquecimento global e às parcerias. 'No mundo de hoje, os desafios e problemas são tão complexos que os governos, sozinhos, não conseguem resolvê-los, e o setor privado tem um papel importante a desempenhar', disse.
Apresentado pela jornalista Ana Paula Padrão como 'um líder que está fazendo história, um símbolo da luta pela liberdade no mundo inteiro e um símbolo de nossa crença nos direitos humanos e na liberdade de expressão', Annan começou sua palestra com um toque de humor. Para dimensionar o alcance dos meios de comunicação, contou que recentemente estava num lugar remoto, meio perdido, até que chegou a uma cidade e percebeu, lisongeado, que havia sido reconhecido. Porem, a primeira pessoa que lhe pediu um autógrafo chamou-o de 'mr. Morgan Freeman'. 'Assinei K. Freeman, e todos ficamos felizes', brincou.
Daí em diante, o homem que nasceu em Gana e dirigiu a ONU por 10 anos, de janeiro de 1997 a dezembro de 2006, assumiu um tom sério para abordar as questões que considera cruciais para a paz mundial, hoje. Deu destaque ao Global Compact, iniciativa da ONU destinada a mobilizar a comunidade empresarial internacional na luta pela promoção dos direitos humanos, do trabalho justo e da preservação do meio ambiente. 'A globalização avançou muitos nos últimos anos, mas bilhões de pessoas foram deixadas de lado', afirmou. 'Por isso convidamos as grandes empresas a assinar o pacto global, e muitas o fizeram, porque queriam ser vistas fazendo a coisa certa. Porém, o que vocês diriam a uma corporação que assina um documento sem pretender honrar seus compromissos', indagou.
Disse que os publicitários brasileiros contavam com a Abap, 'que estabeleceu seu próprio código de ética e de conduta', e pregou a união das organizações em torno de objetivos comuns: 'As organizações podem aprender umas com as outras e se beneficiar das parcerias, tão essenciais nos dias de hoje, quando somos confrontados com problemas e desafios que ninguém pode resolver sozinho. Isso exige um trabalho em parceria, de maneira a unir nossos recursos para obter o maior impacto possível'.
Prioridade às mudanças climáticas - Em relação ao período em que dirigiu a ONU, Annan comentou: 'Nosso sonho ainda não foi realizado, mas o mundo melhorou em muitos aspectos'. Definiu a questão ambiental como tema prioritário nas discussões de governos, empresas e organizações civis: 'No mês passado, em Genebra, o presidente das Maldivas (conjunto de ilhas no Pacífico) fez um relato dramático. Disse que durante a vida toda tiveram o mar como o maior amigo, e hoje ele se transformou no grande inimigo, que, como conseqüência do aquecimento global, já destruiu várias de suas ilhas. Hoje, as mudanças climáticas têm impacto em todos os aspectos do nosso bem-estar, são a força mais destrutiva que confronta a humanidade'.
Segundo Annan, o trabalho para evitar a degradação do meio ambiente vai custar muito dinheiro: 'É necessário definir quem vai cobrir esses custos. Os países poluidores devem pagar mais, evidentemente, devem ser taxados, e os recursos auferidos devem ajudar os povos mais pobres. Milhões de pessoas ainda não têm sequer eletricidade, portanto não poluem, e geralmente são as que mais sofrem com os danos ao ambiente. Todos temos responsabilidade. O problema atingiu nível global, por isso requer soluções globais e objetivos comuns', afirmou.
Ao concluir sua palestra, Kofi Annan fez um apelo à fraternidade: 'Cada um de nós deve ter confiança em seu semelhante. É nisso que os fundadores da ONU acreditavam e é nisso que acredito, assim como acredita um grande número de pessoas no mundo todo'.
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